O fluxo migratório de pessoas é um tema sempre presente. Para lembrar sua importância, de 14 a 21 de junho é celebrada a Semana do Migrante. Na Associação Educadora São Carlos (AESC), o trabalho de acolhimento a homens, mulheres e crianças que deixam sua terra natal e chegam ao Brasil em busca de uma nova vida é realizado pelo Centro de Atenção ao Migrante (CAM), em Caxias do Sul. Desde o início da pandemia de coronavírus, o Centro mobiliza a sociedade para compreender a situação fragilizada de muitas dessas pessoas e, até o momento, recebeu a doação de alimentos e produtos de higiene, limpeza e máscaras, permitindo auxiliar 372 famílias. Por trás de atos generosos, existem voluntários e entidades com desprendimento e vocação para ajudar aos seus semelhantes, como Cristina Bellini, Ivo Dallagnol e o Banco de Alimentos.
“Para mim, é tão natural ajudar as pessoas”
A frase de Cristina Bellini retrata o perfil de uma voluntária. Filha de Regina Bellini, empreendedora do ramo de moda feminina em Caxias do Sul, trabalha com a mãe há 6 anos. O olhar para o próximo é um traço de sua genitora que ela faz questão de preservar e levar adiante. “Há vários anos minha mãe une amigas para celebrar os aniversários no mês de maio, em eventos beneficentes, com a renda revertida para a Liga Feminina de Combate ao Câncer e outras entidades. Esse ano, em razão da pandemia, e mesmo sem a possibilidade de um encontro presencial, mantivemos a campanha, contando com a boa vontade das nossas clientes e amigas. Com a loja e as atividades de convívio que sempre cultivamos, criou-se uma rede de parceiras dispostas a auxiliar, que respondem muito bem às nossas campanhas”, explica Cristina.
Desde maio, os agasalhos e os alimentos coletados pela família Bellini estão todos sendo encaminhados para o CAM. “Antes, iam para a Liga, que continuamos ajudando, mas de outras formas”, esclarece. A escolha pelo CAM se deu por fatores pessoais e por uma conexão nas redes sociais. Cristina relata que tanto ela quanto a filha, Clara, apreciam e pesquisam sobre danças e costumes de origem africana. E, no mês de abril, quando conversavam sobre quem mais ajudar além da Liga, viram uma postagem do CAM no Instagram, se olharam e decidiram: “vamos ajudá-los!”. Nos dias seguintes, procuraram pela Irmã Celsa Zucco, coordenadora do Centro, e foram recebidas de braços abertos.
“Me sensibilizo com o trabalho do CAM, atendendo pessoas que vêm de outras terras. Precisamos ajudar. Não importa a cor nem a nacionalidade, ajudar quem está perto de nós, é sobre isso. Fala-se muito dos meus, dos seus, dos nossos (ao tratar de família e origens). Se os migrantes estão aqui, eles são nossos. Nós, de origem italiana, viemos para cá como migrantes. É importante vermos os novos migrantes como pessoas que vêm de outra terra precisando de apoio e querendo colaborar trabalhando no país. Estão próximos, mas vieram de longe. Vamos trazer mais gente para debaixo desse abraço, que é o trabalho que fazemos em benefício de entidades sociais”, argumenta Cristina.
“Uma das primeiras lições da pandemia é a solidariedade”
O empresário Ivo Dall’Agnol, diretor da Roadline, fabricante de lonas para freios e rodas, mostra-se atento e preocupado com as consequências da pandemia. Mas, para ele, acima de tudo, esse é um momento de aprendizado. “Para nos cuidarmos, temos que seguir o que dizem as autoridades. Para mim, o maior benefício disso tudo é o aprendizado a longo prazo. Assim como uma guerra ou uma revolução, uma pandemia nos ensina muito. Uma das primeiras lições é a solidariedade. Depois, é (questionar) a velocidade. Estava tudo muito acelerado, e agora vemos as pessoas parando um pouco e pensando mais”, reflete.
Conforme suas lembranças, seu histórico de ações beneficentes vem da infância. “Desde quando eu era criança eu ajudava as pessoas. Lembro que eu ganhava salário e dava parte para vizinhos e amigos que precisavam. Sempre me fez bem. Recebo aposentadoria há 22 anos e todo valor é encaminhado para doações”, revela Dall’Agnol. A família é seu esteio e com quem partilha valores como a atenção ao próximo. As ações sociais que promove têm como parceira a esposa Maria de Lourdes, além da colaboração dos filhos. “A Igreja nos ajudou nesse espírito de solidariedade. Está no sangue da família”, reforça.
Como empresário, suas iniciativas ganharam mais força e impacto social. Em 1997, iniciou projetos de Responsabilidade Social a partir de sua empresa, beneficiando crianças e adolescentes. O programa Criando Oportunidades é um deles, e tem atenção voltada a jovens desprovidos de recursos e que necessitam atenção especial da sociedade. Há cerca de dez anos, conheceu o CAM e passou também a contribuir com a causa dos migrantes, incluído em um rol de 30 entidades que Ivo Dall’Agnol apoia de maneira permanente. “As pessoas podem ajudar mais, mas não veem isso. Faço para me sentir bem. Não tem nada em troca. Me sinto útil para a sociedade”, afirma.
“É muito gratificante poder participar dessa ação”
O Banco de Alimentos de Caxias do Sul é um parceiro de longa data, atendendo às necessidades do CAM desde muito antes da pandemia. “Assistimos 100 entidades do município, mas durante a pandemia intensificamos os atendimentos ao CAM, pelo perfil do público. Irmã Celsa entrou em contato comigo e avaliamos que era muito importante esse suporte nesse momento”, assinala Luana Mugnaga, gerente do Segurança Alimentar do Banco.
De acordo com a gestora, de 18 de março até hoje 17 de junho foram fornecidos 4.500 quilos de alimentos, entre perecíveis e não perecíveis. Antes era entregue um rancho mensal e algumas frutas. Agora, a oferta é maior.
“Sabemos que os migrantes enfrentam mais barreiras de acesso aos benefícios da sociedade. Nós trabalhamos com o direito humano básico à alimentação, de acordo com a Política da Segurança Alimentar. Somos parceiros por entender o perfil do CAM. Somos muito gratos por poder de alguma forma fazer parte desse trabalho tão importante para Caxias do Sul”, afirma Luana.
Inaugurado em 2005, o Banco de Alimentos de Caxias integra uma rede com 11 outros bancos do RS, que promove auxílio mútuo para beneficiar com regularidade um número maior de pessoas e entidades.
Sobre a Semana do Migrante
Há 35 anos, o calendário da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) traz a celebração da Semana do Migrante. Em 2020, o período se estende de 14 a 21 junho. O lema bíblico ‘Onde está teu irmão, tua irmã?’ retoma o apelo da Campanha da Fraternidade 2020, que trouxe o lema “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele”.