Lideranças e profissionais da saúde do Hospital prestigiaram e contribuíram com a Roda de Conversa

Como se dá o acesso à rede de saúde pela população LGBTQIAP+? Quais os desafios a serem superados? Como profissionais da saúde podem promover uma acolhida humanizada e compreensiva, que respeite questões de identidade de gênero e orientação sexual?  

Essas foram algumas das provocações apresentadas pela diretora do Hospital Santa Ana, Arlete Fante, à equipe assistencial, e contribuíram para impulsionar a realização da inédita “Roda de Conversa Identidade de Gênero e Orientação Sexual: Direitos da População LGBTQIAP+”, que se propôs a debater e procurar respostas de forma coletiva. A ação foi promovida no dia 13 de julho, no Hospital Santa Ana, e reuniu cerca de 30 colaboradores e lideranças das áreas assistencial e administrativa. Para conduzir o diálogo, foi convidado o psicólogo Paulo Roberto Alves Filho, integrante do Centro de Referência em Direitos Humanos da UFRGS (CRDH) e membro da ONG Somos.

A abordagem inicial apresentou o trabalho realizado pela CRDH e a rede de apoio à comunidade LGBTQIAP+ (veja lista abaixo). Paulo Roberto descreveu o espaço aberto para o tema no Hospital Santa Ana como “uma oportunidade para um trabalho de educação permanente em âmbito de saúde, pois quem trabalha nessa área precisa estar sempre se atualizando. Esses espaços começam assim, de forma pontual, e o interesse das pessoas vai aumentando e acaba por gerar um vínculo, uma parceria com as instituições”.

Na sequência, falaram os anfitriões da Roda de Conversa, promovida pelo Grupo de Equidade e Transversalidade do Hospital Santa Ana: David Mantalof, supervisor da Equipe Multiprofissional dos leitos clínicos, e Raíssa Riberio Schier, líder das Unidades de Saúde Mental. Ambos fizeram suas contribuições e abriram espaço para diálogo, perguntas e exposição de visões sobre a acolhida à diversidade, especialmente em unidades e serviços do Sistema Único de Saúde. Acompanhe as reflexões:

Identidade de Gênero e Orientação Sexual

“A composição da orientação sexual é um processo da vida, a partir das afetividades. Não se escolhe a orientação sexual, mas vivenciá-la é algo que muda de pessoa para pessoa. A vivência desse processo pode ser afetada por marcadores sociais [raça, gênero, região onde vive, entre outros]. Ao mesmo tempo, é intrínseco do sujeito. Saliento ainda que gênero e orientação sexual e gênero são marcadores distintos.”

David Mantalof – supervisor da Equipe Multiprofissional dos leitos clínicos HSA

 

A experiência na Saúde Mental da AESC

Nas Unidades de Saúde Mental da AESC, cada pessoa [ao se identificar como LGBTQIAP+] é consultada sobre onde se sente mais segura para estar: em uma unidade feminina ou masculina? Nosso foco é como ela irá conseguir concluir seu tratamento da melhor forma. E um questionamento importante é: “como podemos, no dia a dia, ver no nosso cotidiano para não sermos fonte de violência?”

Raíssa Schier – líder das Unidades de Saúde Mental HSA

 

Atenção ao público transgênero na saúde

“A expectativa de vida da população trans, no Brasil, é de 30 anos. Pessoas trans de 30 a 35 anos têm mais chance de serem assassinadas, devido à intolerância social. Normalmente, isso ocorre com pessoas com condição financeira mais fragilizada. Aquelas em situação socioeconômica melhor, têm mais tempo de vida. Para uma pessoa trans ter acesso à redesignação de gênero, é necessário passar por um diagnóstico. A fila de espera, atualmente, é de 2 anos. Enquanto isso, ela precisa performar para viver [conforme o gênero que a sociedade vê/percebe, mas não com o qual ela se identifica].”

Paulo Roberto Alves Filho – CDRH / ONG Somos

 

“Sustentar uma performance de heteronormatividade para ser aceito perante a sociedade, é uma violência para a comunidade LGBTQIAP+”.

David Mantalof – supervisor da Equipe Multiprofissional dos leitos clínicos HSA

 

“A readequação da voz é outra forma de atender a comunidade trans. É uma etapa importante no processo. O trabalho é feito por fonoaudiólogas e fonoaudiólogos, e há um ambulatório específico no Hospital de Clínicas de Porto Alegre”.

Fabiane Machado de Souza – Fonoaudióloga das Unidades Clínicas do HSA

Rede de apoio

Entre as informações ao público da Roda da Conversa, o representante da CRDH/UFRGS e da ONG Somos mencionou alguns serviços voltados à comunidade LGBTQIAP+:

Ambulatórios Trans de Porto Alegre
Ambulatório Trans Centro:
Centro de Saúde Santa Marta (rua Capitão Montanha, 27, 1º andar – Centro Histórico)
Atendimento de segunda a sexta-feira, das 13h às 19h
WhatsApp (51) 9506-9632

Ambulatório Trans Zona Sul:
Clínica da Família Álvaro Difini (rua Álvaro Difini, 520 – Restinga)
Atendimento sextas-feiras, das 8h30 às 12h30

Delegacia de Polícia de Combate à Intolerância
Av. Presidente Franklin Roosevelt, 981
Fone: (51) 3288-2570

Hospital de Clínicas de Porto Alegre
Programa Transdisciplinar de Identidade de Gênero (Protig)

Para acessar, é necessário procurar inicialmente a Unidade Básica de Saúde mais próxima, para receber as orientações. A partir do momento da chegada ao serviço, são realizadas avaliações e entrevistas. O Hospital de Clínicas não marca consultas diretamente no local.

Centro de Referência em Direitos Humanos da UFRGS
Ramiro Barcelos, 2.777 / Sala 310
Atendimento mediante agendamento.
WhatsApp: (51) 3308-5700

Serviço de Assistência Jurídica Universitária UFRGS
Av. João Pessoa, nº 80. O núcleo que atende ao tema de Gênero e Sexualidade é o G8 – Generalizando.

ONG Somos
Rua Uruguai, 300, sala 101
Porto Alegre
Site: https://somos.org.br/        

Sobre a Roda de Conversa

A iniciativa foi idealizada e realizada pelo Grupo Equidade e Transversalidade do Hospital Santa Ana, que tem como objetivo promover a inclusão e impulsionar a diversidade, além de novas visões e referências. Ainda, se propõe a estudar marcadores sociais como raça, gênero e sexualidade. Nesse primeiro evento, o grupo trouxe o debate junto às colaboradoras e colaboradores do Hospital, pensando tanto nas pessoas LGBTQIAP+ que ingressam como pacientes e usuárias do Santa Ana quanto em quem desenvolve sua atividade profissional no local.

“As rodas de conversas possibilitam o compartilhamento de diferentes perspectivas entre os colaboradores e convidados, além de favorecerem as trocas diárias. Esse processo impacta positivamente no cuidado aos pacientes e, também, na sociedade, a partir da quebra de preconceitos e estigmas culturais”, destaca a enfermeira Raíssa Schier, corresponsável pelo Grupo, ao lado do assistente social David Mantalof.

SAIBA MAIS

A Sigla LGBTQIAP+

Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans (transgêneros, transexuais e travestis), Queers, Intersexuais, Assexuais, Pansexuais (LGBTQIAP+).

A sigla do movimento evoluiu ao longo dos anos, conforme o avanço nas percepções gêneros, identidades e orientações sexuais. O sinal de “+” adição representa a inclusão dos demais espectros que compõem a comunidade.

Identidade de Gênero

Considera-se a identificação e percepção individual em relação ao pertencimento ou não a algum(ns) gênero(s).

  • Cisgênero – Pessoa que se identifica com o gênero que lhe foi atribuído no nascimento. Ideia de binaridade (feminino/masculino).
  • Transgênero – Pessoa que não se identifica com o gênero que lhe foi atribuído no nascimento.
  • Não Binário: Pessoa que não se identifica com nenhum dos dois gêneros tradicionais.
  • Mulher trans: sexo biológico do nascimento foi masculino, mas a pessoa se reconhece socialmente como mulher.
  • Homem trans: sexo biológico do nascimento foi feminino, mas a pessoa se reconhece socialmente como homem.

Orientação sexual

  • Heterossexualidade: atração por pessoas do gênero oposto ao seu.
  • Homossexualidade: atração por pessoas do mesmo gênero.
  • Bissexualidade: atração por pessoas dos gêneros feminino e masculino.
  • Pansexualidade: atração por pessoas, independente do gênero, da orientação sexual ou expressão de gênero.
  • Assexualidade: sem atração afetiva ou sexual.

Sexo biológico

Ligado à ideia de definição de gênero a partir da genitália. Porém, a genitália não define gênero nem orientação sexual.

Expressão de gênero

A forma com a pessoa expressa seu gênero em sociedade, o que nem sempre corresponde ao que é visto como padrão. Pode ser feminino, masculino ou andrógino.

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