Doação de Órgãos
Fita verde simboliza mundialmente a doação de órgãos, com data e campanhas de incentivo em setembro / Foto: jcomp/Pixabay.com


Entre oito e 10 vidas podem ser salvas quando uma família, mesmo em meio à dor da perda de um ente querido, realiza o ato solidário da doação de órgãos. No entanto, a recusa do núcleo familiar ainda é apontada como uma das principais causas para que os órgãos de um potencial doador não cheguem a pacientes na fila de espera. Por isso, no Dia Nacional da Doação de Órgãos e Tecidos (27/9) e durante todo o mês de setembro, campanhas buscam conscientizar sobre tudo que envolve a iniciativa de doar.

“É um período em que se busca sensibilizar as famílias a que pensem sobre esse assunto. O Rio Grande do Sul já tem avançado em alguns pontos, pois é o segundo Estado no ranking de maior número de transplantes de pulmão, por exemplo. Para outros órgãos, temos encontrado um pouco mais de dificuldades”, afirma o diretor médico do Hospital Santa Luzia, Francisco Lammerhirt.

Uma das principais dificuldades para a doação é que hoje não está previsto em lei que o desejo de ser um doador, declarado em vida pela pessoa, possa valer como autorização legal para a retirada dos órgãos. A decisão é da família, explica uma das integrantes da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT) do HSL, a enfermeira e gerente assistencial, Taise Scapin. 

“Nossa mensagem é de que as pessoas deixem explícito seu desejo de ser um doador de órgãos para os familiares. Porque no momento em que a família é questionada sobre isso, ela já tem essa informação que pode ajudá-la nessa decisão”, diz Taíse.

Neste mês, a CIHDOTT do Santa Luzia promoveu atividades de capacitação e debate sobre o tema com as equipes do hospital, contando com a participação da Organização da Procura de Órgãos (OPO) 2 do Hospital São Lucas da PUCRS, de Porto Alegre. 

 

Processo rigoroso

Entre os medos que afligem as famílias no momento da doação está o de que possa haver algum engano no diagnóstico de morte cerebral do doador. Taise explica que esse é um processo muito rigoroso: 

“Primeiro, os profissionais do Hospital identificam a possibilidade de morte cerebral. Testes são, então, feitos pelo médico do paciente. Uma hora após, um neurologista refaz a avaliação. A família é informada do processo de verificação, enquanto a OPU II da PUCRS é acionada e envia uma equipe ao hospital, onde repete os testes e faz uma ultrassonografia com doppler da cabeça, a qual identifica se existe algum fluxo de sangue no cérebro. Identificada a ausência, é feito o diagnóstico de morte cerebral. Então, é abordada a família sobre o desejo de fazer a doação de órgãos do ente”. 

Uma vez que a família concorde, é agendada a captação e são feitos os exames para verificar possíveis doenças no doador que possam inviabilizar a doação. Enquanto isso, a Central de Transplantes do Estado procura o paciente mais compatível para receber os órgãos. Contatada, essa pessoa se dirige até um hospital para se preparar para o transplante, em um tempo sincronizado da captação até a recepção do órgão.

 

Dificuldades na pandemia

Dados divulgados no início de junho pela Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) apontam que houve uma redução de 6,9% nas doações nos primeiros três meses de 2022, em comparação com o primeiro trimestre de 2021. 

Diante da queda nas doações, o Ministério da Saúde publicou uma nota técnica em março deste ano que revê os critérios para doação de órgãos e tecidos. Em algumas condições de infecção pelo coronavírus, é possível fazer a captação. Diz o documento: “A ausência de casos documentados de transmissão do SARS-CoV-2 em transplantes de órgãos, exceto para o pulmão, trazem a possibilidade de atualização dos critérios de triagem para a doação em determinados casos de infecção detectada, acrescentando alternativas para o aceite de um doador, baseado em uma análise criteriosa do risco-benefício”.  

A doação fica condicionada ao aceite do receptor, que sempre deve ser informado da condição de teste positivo para covid-19 do doador.

Tire suas dúvidas sobre a doação

Hoje, no Brasil, são mais de 50 mil pessoas aguardando por um órgão. Não é uma decisão fácil para a família e que precisa ser tomada em um momento de muita dor. Para reduzir ao máximo as dúvidas sobre a doação de órgãos, o site da ABTO traz várias informações (bit.ly/ABTOinfos).

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