Neste mês de setembro, em evento online promovido pelo Centro de Atendimento ao Migrante (CAM) sobre os desafios humanitários no acolhimento a refugiados e apátridas, o ativista sírio Abdulbaset Jarour fez uma afirmação impactante, durante seu relato de vida:
“Nenhuma terapia do mundo vai tirar a história de dor que passei junto com meu povo, minha família. Nada é capaz de devolver a vida que eu tinha. Não estou feliz, mas levo a felicidade dentro dessa luta, porque não tenho opção, e não vou ficar de braços cruzados.”
O depoimento, carregado de emoção, traz as marcas de quem viu sua família dividida e vítima de uma circunstância incontrolável em seu país de origem.
A psicoterapia, embora não tenha como objetivo mudar histórias vividas por um indivíduo, contribui muito para a superação de situações traumáticas, como as migrações forçadas. Ao perceber essa realidade, com a qual convive diariamente ao receber dezenas de pessoas das mais distintas nacionalidades, o CAM, por meio da sua mantenedora, Associação Educadora São Carlos (AESC) abre uma nova forma de acolhimento às necessidades dos migrantes: o teleatendimento em Saúde Mental.
Legame – Teleatendimento em Saúde Mental
Atenta à necessidade de acolher as pessoas que precisam de uma escuta sensível para falar sobre desconfortos como medo, ansiedade, luto, tristeza e sofrimento emocional – sentimentos despertados ou potencializados durante a pandemia –, a AESC criou em 2021 o Legame – Teleatendimento em Saúde Mental. O serviço é gratuito, conta com psicólogos e psiquiatras experientes e estrutura que garante sigilo e cuidado para todos.
Acessível inicialmente a funcionários, seus familiares e famílias de estudantes dos três colégios da AESC no Rio Grande do Sul, agora o benefício é estendido à comunidade migrante que acessa o CAM. A nova Linha de Cuidado do Migrante conecta os serviços de saúde da AESC à sua área de responsabilidade social, representada pelo CAM.
Como funciona
Em sua primeira fase, o serviço de teleatendimento em Saúde Mental está disponível a todas as pessoas migrantes residentes no Rio Grande do Sul, a partir de 18 anos, que estejam cadastradas no CAM e manifestem desejo de receber o atendimento.
O Centro faz a intermediação, promovendo os agendamentos com psicólogos e psiquiatras da AESC, que é dirigida pela Congregação das Imãs Missionárias de São Carlos Borromeo-Scalabrinianas. Em uma fase seguinte, o Legame – Teleatendimento em Saúde Mental será expandido para todo o Brasil, por meio da rede de apoio a migrantes, refugiados e apátridas.
O Papa e os migrantes
O novo serviço marca, de forma simbólica, o 107º Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, celebrado em 26 de setembro. A data tem como principal porta-voz o Papa Francisco, que em suas manifestações públicas e viagens internacionais tem reforçado o lema “Rumo a um nós cada vez maior”. Para o Sumo Pontífice, isso significa abertura e capacidade de conexão, acolhendo as diferenças entre os vários povos, culturas, línguas, costumes, expressões religiosas e valores.
SERVIÇO:
Teleatendimento em Saúde Mental para Migrantes e Refugiados
Acesso
Será por meio do Centro de Atendimento ao Migrante (CAM), em Caxias do Sul. As pessoas interessadas precisam estar cadastradas. O CAM irá dispor de um “consultório virtual”, ou seja, um espaço em sua sede com dispositivos e internet onde migrantes e refugiados possam realizar o atendimento, dispondo da tecnologia necessária e garantindo a inclusão digital.
Serviço gratuito
O Legame – Teleatendimento em Saúde Mental é um serviço totalmente gratuito e sigiloso, sendo realizado por profissionais da Psicologia e da Psiquiatria da Associação Educadora São Carlos (AESC), mantenedora do CAM.
Línguas
O serviço está disponível, inicialmente, para falantes de Português e Espanhol.
Horários
Para se cadastrar, as pessoas interessadas precisam ir ao CAM, de segunda a sexta, das 13h às 17h. O endereço é Rua Professor Marcos Martini, 1600 – Bairro Marechal Floriano, Caxias do Sul. Para pessoas já cadastradas no CAM, ligar para o número (54) 3027.3360.