O italiano dom João Batista Scalabrini (1839-1905), que será canonizado no próximo domingo, dia 9 de outubro, no Vaticano, pisou em terras do Rio Grande do Sul por 59 dias, em 1904. O roteiro incluiu principalmente as cidades de colonização italiana.

Canonização será transmitida pelo canal do Vaticano no YouTube. Acesse AQUI.

Scalabrini em seu desembarque às margens do Rio Taquari, no Rio Grande do Sul

Conforme registros de jornais da época, Scalabrini desembarcou no porto de Rio Grande no dia 8 de setembro de 1904, onde iniciou um caminho intenso que contemplou 13 municípios. Passou por Porto Alegre, Lajeado, Encantado, Coronel Pilar, Garibaldi, Nova Prata, Nova Bassano, Veranópolis, Bento Gonçalves, Garibaldi, Caravaggio e Caxias do Sul até voltar a Rio Grande, de onde seguiu para Buenos Aires, na Argentina.

O padroeiro percorreu grandes distâncias no Estado, cumprindo muitos quilômetros a cavalo de oito a 10 horas por dia, fez entradas apoteóticas nas cidades e mais de 6 mil gaúchos foram crismados. Sua missão no Rio Grande do Sul segue, hoje, mais de 100 anos depois, na obra das irmãs, que se dedicam a perpetuar o legado de Scalabrini.

O trabalho das Irmãs Scalabrinianas no RS   

Reconhecido pela Igreja Católica como padroeiro dos migrantes, Scalabrini foi o fundador da Congregação das Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeo-Scalabrinianas, em 1895, que é responsável pela rede Educação Scalabriniana Integrada, que inclui três colégios: São Carlos, em Caxias do Sul; Nossa Senhora de Lourdes, em Farroupilha; e São Carlos, em Santa Vitória do Palmar. 

A Associação Educadora São Carlos (AESC), personalidade jurídica da Congregação no RS, foi fundada em 1962, mas a chegada das Irmãs ao Estado ocorreu em 1915. Além dos três colégios, a AESC também mantém na Capital os hospitais Mãe de Deus e Santa Ana e quatro Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD) e, no Litoral Norte, os hospitais Nossa Senhora dos Navegantes, em Torres, e Santa Luzia, em Capão da Canoa. A missão original é exercida pelo Centro de Atendimento ao Migrante, em Caxias do Sul.

Com atuação marcante na saúde, na educação e na acolhida a migrantes e refugiados, a cada ano a AESC atende, educa e acolhe mais de 200 mil pessoas. O trabalho dos mais de 4 mil funcionários é inspirado na obra de Scalabrini.

Romaria em Farroupilha

Para celebrar o Ano Scalabriniano – que marca os 25 anos da beatificação – e a canonização, haverá, no dia 6 de novembro, em Caravaggio, a 4ª Romaria da Família Scalabriniana ao Santuário Nossa Senhora do Caravaggio. A programação prevê acolhida das caravanas a partir das 9h30min, visita ao santuário, almoço e a Santa Missa presidida por Dom Alessandro Ruffinoni. A escolha do Santuário deu-se por ser um dos santuários mais visitados do Sul do Brasil e especialmente pelo fato do próprio João Batista Scalabrini ter celebrado no referido local e ter proferido uma emocionante homilia sobre Nossa Senhora, para centenas de imigrantes, em 1904.

Biografia

Nascido em Fino Mornasco, na província de Como, em 8 de julho de 1839 em uma família humilde e religiosa, é o terceiro de oito filhos. Aos 18 anos, em 1857, ingressou no seminário e depois de seis anos foi ordenado sacerdote em 30 de maio de 1863. Seu desejo era ir em missão, mas não lhe foi permitido: iniciou seu apostolado como professor e depois reitor do seminário menor de Como, cargo que ocupou até 1870. No mesmo ano foi nomeado pároco da paróquia de San Bartolomeo de Como. Com apenas 36 anos, o Papa Pio IX o elegeu bispo de Piacenza em 13 de dezembro de 1875.

Profundamente atingido pela tragédia de seus fiéis forçados a encontrar uma nova vida na América do Sul e nos Estados Unidos, em 28 de novembro de 1887 fundou a Congregação dos Missionários de São Carlos Borromeo para a assistência espiritual e material dos migrantes. Dois anos depois, em 1889, fundou a associação leiga São Rafael e, em 1895, ao lado do Padre José Marchetti e sua irmã da Madre Assunta Marchetti, Scalabrini fundou a Congregação das Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeo.

Em 1901 chegou aos Estados Unidos e em 1904 ao Brasil para visitar as missões de seus irmãos scalabrinianos. Retornando de sua última viagem, ele adoece e morre em 1º de junho de 1905, data em que todos os anos é celebrado o seu dia, pela “ascensão de Jesus ao céu”.

Sua visão de migração, capaz de reconhecer oportunidades junto com problemas, ainda é muito atual hoje. O Instituto Secular dos Missionários Seculares Scalabrinianos, fundado em 1961 na Suíça, também se inspira nele. Foi proclamado beato pelo Papa João Paulo II em 9 de novembro de 1997. Agora, 9 de outubro de 2022, é proclamado santo pela Igreja.

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