Por Felipe Wagner, psiquiatra na AESC*
A saúde mental é tema importante em nossas vidas. Em 2021, o número de brasileiros sofrendo de depressão dobrou em relação a 2019, chegando a 11,3%, diz o estudo Vigitel Brasil. Esse e outros transtornos mentais não apenas comprometem a qualidade de vida como têm se tornado uma das maiores causas de incapacidade laboral no mundo, além de poder chegar a consequências graves, como o suicídio, motivação para as campanhas de sensibilização do mês de setembro.
Sabemos que a pandemia de Covid-19 contribuiu para a piora no quadro de saúde mental do brasileiro, por conta de isolamento social, perdas de entes queridos e dificuldades financeiras. Para cuidar dos transtornos mentais em prol da promoção à vida, a Associação Educadora São Carlos (AESC) criou, em 2021, a partir dos conhecimentos acumulados com os mais de 20 mil atendimentos remotos nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) de Porto Alegre, um serviço centrado nas pessoas: o Legame – Teleatendimento em Saúde Mental.
Na AESC, tem-se como premissa o acolhimento e o humanismo – que, na saúde, é expresso pelo cuidado centrado nas pessoas, no qual um ser humano é acolhido por outro, em um ambiente institucional promotor de afeto, dignidade, resultado e segurança. O Legame – que nasceu da percepção de que seus funcionários precisavam de espaço de escuta e apoio – é produto disso.
Os atendimentos começaram pelo cuidado psicológico e psiquiátrico dos funcionários das instituições mantidas pela AESC: além dos CAPS, o Hospital Mãe de Deus e Hospital Santa Ana, em Porto Alegre, os hospitais Santa Luzia e Nossa Senhora dos Navegantes, no Litoral, e três colégios na Serra e Região Sul. O serviço teve de imediato grande adesão, estendido de pronto aos familiares.
A partir de setembro de 2021, passou a atender também os imigrantes cadastrados no Centro de Atendimento ao Migrante (CAM) em Caxias do Sul, braço de responsabilidade social da AESC. Como um grupo também fragilizado pela pandemia, essas pessoas encontraram no Legame um espaço de escuta sensível para falar sobre sofrimento emocional.
Desde o lançamento do serviço, já foram 2,4 mil atendimentos de funcionários e familiares e 365 de imigrantes, com psicólogos ou psiquiatras.
Saber que existe um serviço terapêutico na empresa em que se trabalha é um diferencial que permite lidar com o sofrimento emocional e encontrar acolhimento.
(*) Conteúdo publicado originalmente na seção de Opinião do Jornal Zero Hora (29/09/2022)