Parte da equipe que compõe a Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT) do HNSN. A partir da esquerda: Caruline Bauer, Carolina Dalolli, Fernanda Machado, Viviani Rocha, Bianca Fernandes e Daniel Bauer.

Um acontecimento atípico desde o início da pandemia chamou atenção das equipes do Hospital Nossa Senhora dos Navegantes (HNSN) em junho. Em um intervalo de aproximadamente 20 dias, foram feitas duas captações de órgãos na instituição mantida pela Associação Educadora São Carlos (AESC), em Torres. Quatro rins, um fígado e córneas foram encaminhados para doação a pacientes na fila de espera.

O procedimento só foi viável pela solidariedade de duas famílias que, mesmo em um momento de tristeza pela perda de entes queridos, aceitaram ajudar outras pessoas. Atos como esse são muito importantes em um momento em que a doação de órgãos no Brasil tem sofrido quedas. Dados divulgados no início de junho pela Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) apontam que houve uma redução de 6,9% nas doações nos primeiros três meses de 2022, em comparação com o primeiro trimestre de 2021.

No HNSN, a Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT), composta por enfermeiros, psicóloga e médicos da UTI, é quem trabalha para viabilizar a captação de órgãos. Na identificação de um potencial doador, a Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos (Central de Transplantes) é notificada por este grupo e repassa a informação para uma Organização de Procura de Órgão (OPO) da região. No caso do HNSN, a OPO II PUC é acionada.

“Durante a pandemia, a doação de órgãos ficou muito prejudicada porque a covid -19 ainda era uma doença muito desconhecida. Além da impossibilidade de doação por mortos infectados ou suspeitos de infecção por coronavírus, havia a falta de leitos de UTI. Agora, estamos retomando a pleno o trabalho da comissão para viabilizar que mais vidas possam ser salvas”, conta o coordenador da CIHDOTT no Navegantes, o enfermeiro Daniel Bauer.

Nova regra para doadores infectados por covid-19

Diante da queda nas doações, o Ministério da Saúde publicou uma nota técnica em março deste ano que revê os critérios para doação de órgãos e tecidos. Em algumas condições de infecção pelo coronavírus, é possível fazer a captação. Diz o documento: “A ausência de casos documentados de transmissão do SARS-CoV-2 em transplantes de órgãos, exceto para o pulmão, trazem a possibilidade de atualização dos critérios de triagem para a doação em determinados casos de infecção detectada, acrescentando alternativas para o aceite de um doador, baseado em uma análise criteriosa do risco-benefício”.  

A doação fica condicionada ao aceite do receptor, que sempre deve ser informado da condição de teste positivo para covid-19 do doador.

Declare-se doador(a)

A recusa familiar é um dos principais motivos que aparecem em relatórios como o da ABTO para que os órgãos de um potencial doador não cheguem a pacientes na fila de espera – em março de 2022, eram 49.355 pessoas aguardando por um órgão no Brasil. No RS, esse número é de 1.615 pacientes.

Não é uma decisão fácil e que ainda precisa ser tomada em um momento de muita tristeza. Por isso, muitas campanhas têm sido feitas para que cada vez mais pessoas declarem aos parentes, em vida, que gostariam de que seus órgãos sejam doados em caso de morte. Para quem tem dúvidas sobre a doação de órgãos, o site da Associação traz várias informações (bit.ly/ABTOinfos).

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